Como gerenciar sistemas compartilhados?

A área de TI (Tecnologia da Informação) é tratada de formas diferentes em empresas pequenas, médias e grandes. Nos dois primeiros casos, as equipes – muitas vezes reduzidas – são responsáveis por lidar com tudo o que envolve a infraestrutura de telecomunicações, para além das tradicionais redes de computadores e de telefonia. Hoje, a hiperconvergência sobrecarrega esses profissionais que precisam desenvolver e gerenciar soluções nas mais diversas disciplinas, como monitoramento (CFTV), controles de acesso, gestão de energia, helpdesk, automação, áudio e vídeo, além de muitas vezes serem, também, responsáveis pela operação de sistemas. Essa centralização tende a ser inescapável por conta das limitações e braços de cada departamento.

Nas grandes empresas, entretanto, o cenário é outro, com maior especialização das equipes de acordo com suas áreas de atuação. Além da mais antiga e tradicional segmentação entre os times de infraestrutura e de sistemas, atualmente nota-se outras divisões que extrapolam o departamento de TI e trazem uma série de desafios para essas áreas, que passam a ser proprietárias de ecossistemas até então desconhecidos.

Para exemplificar esses cenários, tomemos como exemplo os projetos e manutenções de CFTV (circuito fechado de televisão), onde se nota uma tendência do sistema ser empurrado para os gerentes de Segurança Patrimonial, que passam a assumir a responsabilidade de desenvolver, implementar e gerenciar. Ao mesmo tempo, equipes de Melhoria Contínua, Controle de Qualidade e Segurança do Trabalho também têm utilizado cada vez mais as ferramentas de monitoramento por imagem, de acordo com cada necessidade.

Então,

Como deve ser feita a gestão dos sistemas e subsistemas do CFTV da empresa?

Autonomia absoluta para cada área? TI figura o papel de proprietária, tendo seus clientes internos? TI figura o papel de parceiro de negócios das áreas, atuando de forma consultiva? Busca-se um parceiro externo para cumprir o papel da TI sobrecarregada?

Assumindo que a aplicação (no caso, o CFTV) não é mais uma caixinha dentro da TI, mas que todas essas áreas são proprietárias do sistema, vemos uma inversão lógica na gestão. Isso implica em menor gestão do topo para a base (comando e controle) e maior foco na experiência de cada área.

Dessa forma, compartilho duas alternativas que tenho me deparado em alguns clientes para esta gestão e quais são suas vantagens e desvantagens:

1. Sistemas Independentes:

Cada área tem total autonomia para desenvolver, implementar, aprimorar e manter suas aplicações de forma independente. A gestão fica a cargo de cada departamento que tratará da forma que lhe for conveniente, adotando suas próprias práticas e contando (ou não) com seus próprios parceiros de negócio. Os investimentos são individualizados, respeitando a prioridade e necessidade de cada área de acordo com o orçamento disponível.

Prós:

  • Cada área tem liberdade para priorizar e alocar recursos de acordo com sua necessidade;
  • As decisões podem ser tomadas mais rapidamente;
  • Os sistemas são menores, o que torna a gestão mais simplificada;

Contras:

  • Cada área precisa desenvolver e incorporar a expertise necessária para gerenciar seus projetos;
  • A limitação técnica e a falta de padronização abrem brecha para maiores erros de projetos e práticas;
  • Os custos globais de aquisição e manutenção dos sistemas tendem a ser maiores, uma vez que as áreas não compartilham a infraestrutura;
  • Departamentos com o orçamento limitado terão maior dificuldade em conseguir implementar seus projetos;

2. Sistemas Interdependentes:

Define-se uma equipe para centralizar as demandas e indicar as diretrizes do sistema, que devem ser obedecidas por todas as áreas. A gestão é compartilhada por um comitê (squad) composto pelas áreas interessadas e apoiada na figura de um parceiro de negócio, responsável por oferecer todo o suporte e consultoria.

Prós:

  • Menor custo de aquisição e manutenção, já que os investimentos são compartilhados;
  • Maior visibilidade dos sistemas e investimentos, possibilitando uma melhor gestão e planejamentos futuros;
  • A padronização dos sistemas garante que as instalações seguirão as normas e melhores práticas adotadas pela empresa, evitando futuros retrabalhos;
  • Menor investimento em capacitação técnica, já que as áreas não precisam necessariamente se especializar;

Contras:

  • As áreas devem entrar em acordo para planejar e tomar decisões;
  • O sistema é maior e mais complexo, o que exige participação de todas as áreas na gestão;
  • Áreas com diferentes poder de influência (e orçamento) podem implicar em entraves e desacordos;
  • As decisões tendem a ser mais lentas;

Independente de qual modelo será adotado, fica claro que a forma antiga de gestão com determinação top-down não se aplica mais a subsistemas que compõem os campos da TI tradicional. Assim como já vem acontecendo para produtos e projetos em empresas que adotam metodologias ágeis, novas formas seguem sendo testadas e aprimoradas, mas a tendência percebida é que se torna cada vez mais necessária a formação de squads (times multidisciplinares) com missões claras e trabalho colaborativo.

Mesmo que se opte por atuar de forma independente, os desafios de cada setor devem ser compartilhados entre si para que as soluções sejam mais assertivas e os riscos mitigados. Essa orquestração pode ser desafiadora, mas os benefícios se apresentam recompensadores. Vale destacar que a figura de uma pessoa para ser owner do sistema é fundamental para facilitar a gestão das demandas e dos projetos e a grande novidade é que ela não precisa estar, necessariamente, no departamento de TI.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.